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15.7.05

Um novo começo



“Batman Begins” é ótimo. Acho que não encontro definição melhor para o novo filme do Cavaleiro das Trevas. Se eu parasse por aqui já bastaria, acredite.

Dirigido por (meu herói) Christopher Nolan - do ótimo “Amnésia” -, “Batman Begins” beira a perfeição: somos agraciados a todo instante com toques de uma condução de atores e situações com uma precisão quase cirúrgica. Nolan nunca se dá o direito de exagerar em nada. Poderia muito bem ter deixado o altíssimo orçamento subir-lhe à cabeça e ter enveredado por CGI’s absurdamente belas, uniformes com mamilos e tema musicais marcantes. Nada disso acontece em “Batman Begins”. O filme é centrado e preciso: da câmera que não tremula à trilha sonora.

Segundo o roteirista David Goyer, Nolan não parava de repetir seu mantra: “Tem de ser real, tem de ser real”. Se a preocupação dele era essa, então ele conseguiu alcançar seu objetivo: todas as situações soam absurdamente críveis. Até a parafernália usada pelo justiceiro, originalmente, foi desenvolvida para possível uso militar. É isso que torna o filme interessante. Você fica com a impressão de que aquilo tudo na tela poderia ser verdade, mesmo diante de um tecido que tem sua forma definida como asas de morcego através de choques elétricos.

Christian Bale está ótimo no papel de Bruce Wayne. Ele tem vigor e presença necessária para o personagem. Seu timing para cenas de ação é perfeito. Até mesmo, quando preciso, consegue ficar mais jovem ou mais velho com um simples penteado diferente.
Bale construiu um Batman que tem medo de si próprio. Ele tem medo de confundir sede de justiça com sede de vingança. Compreensível: Bruce foi ensinado a amar Gotham e foi criado com a fixa idéia de que o status e o dinheiro devem ser instrumentos de ajuda no combate às desigualdades. Das desigualdades surgem outras mazelas. Uma delas é a violência. E a violência é gratuita, mesmo para os benevolentes. E aí que o sistema trai Bruce Wayne. E é ai que ele tem medo do que pode fazer enquanto busca por justiça acima de lei.

O restante do elenco também é ótimo: Michael Caine está maravilhoso como Alfred Pennyworth, e é dele o alívio cômico do filme – engraçado, sem exageros, e forte como o pilar de Bruce em sua busca pelo caminho correto; Morgan Freeman, assim como Caine, deixa a trama mais leve como Lucius Fox, o braço-direito de Bruce nas Corporações Wayne; O misterioso Ducard se encaixou perfeitamente para a atual fama de “mestre” de Liam Neeson – vide “Ameaça Fantasma” e “Cruzada”; Katie Holmes interpreta Rachel Dawes, o porto-seguro e esteio moral de Wayne; Tom Wilkinson é o sumo da ganância e da corrupção no papel do irascível Carmine Falcone; O imortal (será?) Ra’s Al Ghul ficou com Ken Watanabe, revelado depois de “O Último Samurai”; Gary Oldman expressa perfeitamente toda a frustração ante a atual situação de Gotham e a bondade do então tenente Gordon; Rutger Hauer tem seu retorno triunfal no papel do ardiloso Earle; e Cillian Murphy encarna o psicótico Espantalho, sem se levar por feições exageradas, compondo perfeitamente o vilão.

Sem tremer ante tantos nomes, Nolan conduziu com tranqüilidade o elenco. Todas as atuações foram as mais concisas possíveis, deixando claro o talento do diretor em conter o ego das estrelas – é só se lembrar do quanto estava centrado o explosivo Robin Williams em “Insônia”.

Na versão de Nolan, a reconstrução da famosa cena da morte dos pais de Bruce ganha uma profundidade nunca antes conferida. Ela – que, aqui, não se passa em forma de um rápido flashback – nos transporta competentemente para o cotidiano violento de Gotham, que, por tabela, nos remete com eficiência à mesma situação passada em qualquer cidade na vida real.
Na versão de Burton, a cena parece um assassinato sem propósito, praticado por pura maldade.
Mais uma vez, Nolan cumpriu seu mantra. Ponto para a veracidade.

Ainda tem a trilha sonora composta por James Newton Howard (“A Vila”, “Colateral”) e Hans Zimmer (“Gladiador”, “Spirit – O Corcel Indomável”). Sem um tema específico, como nos Batmans anteriores, a trilha é fantástica. Ela serve perfeitamente como instrumento de condução – quase sempre em marchas - aos melhores momentos da película. Sua execução non-stop cria uma interação forte entre espectador e filme.

No fim “Batman Begins” é fantástico. Mas, sem desmerecer o trabalho de Burton – já que é impossível considerar a versão de Joel Schumacher -, este novo deveria se sagrar para o Cavaleiro das Trevas, de uma vez por todas, o seu definitivo novo começo.

4 comentários:

  1. Batman Begins é sem dúvida um filmao.
    Nolan diverge dos outros filmes da série ao introduzir uma linha de pensamento mais profunda, analítica e menos colorida, infantil e histriônica que foi visto em “Batmans” anteriores.
    ( principalmnete em Batman & Robin de Joel Schumacher com o péssimo Dr. Freeze)
    Nolan opta em dar um passo atrás para dar dois para frente.
    Em suma: aumenta a vulnerabilidade de Bruce Wayne, o traz á esfera humana onde há raiva, ressentimento e vingança, longe de super heróis tradicionais imbatíveis e cheios de truques.
    Bale nasceu para o papel e traduz bem a passagem de Wayne-Batman.
    Só falta esperar o 2!

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  2. Xará, resolvi encarar de uma só vez, Sr & Srª Smith, Batman e Quarteto Fantástico. Disparamente foi o melhor de todos. Tanto naquele fim de semana quando na franquia de Batman

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  3. hugo : sou da presbiteriana do Areao ...será que já nao nos conchecemos? afinal sempre tem encontros e congressos...sou pessimo pra nome mas para fisionomia nao me falha um...
    até mais
    valeu pela visita no site
    quais assuntos vc acha legal enfocar?
    espero reply
    fábio

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  4. Rapaz...
    Esse post foi digno de um crítico de cinema profissional!
    Está de parabéns!
    Vou linkar vc em meu blog, mas que fique claro que não espero o mesmo, ok?
    Me deu até uma vontade louca de ver o filme... o que ainda não aconteceu por falta de verba!
    Mas, enfim, daqui a pouco sai nas locadoras!
    Abração!

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